Em 1983, Martin Scorsese realiza “O Rei da Comédia”, trazendo ao cinema o grande cómico Jerry Lewis no papel sério da sua vida real, sequestrado por Robert de Niro, que representa um actor cómico frustrado. O filme, apesar de esmagadoramente brilhante, foi um tremendo insucesso, devido à incapacidade do público de passar de uma forte expectativa de riso para o confronto da dura realidade de homens normais, um esforçando-se por regressar a casa, o outro desfazendo-se em sketch sem graça.
A forte mensagem daquele filme não nos permite esquecer da força necessária para que a vida brote e da cruel insaciedade com que, muitas vezes, uns aos outros nos olhamos, bem visível nos cómicos, sempre sujeitos à agulheta redutora do riso que podem ou não provocar. Não é sustentável que reduzamos a complexidade mágica do outro a um objecto apetecível em função da correspondência a um padrão de gosto ou de moral.
Nesta época que tanto remete para os deveres e responsabilidades de cada qual e se criticam, às vezes asperamente, os jovens, os trabalhadores, os empreendedores, os políticos, os agricultores, os pescadores, os industriais, os banqueiros, os dançarinos, os consumidores, os supermercados, a lua e o clima, é preciso trazer uma palavra de espanto perante a alegria da natureza pujante, a luz dos espíritos que criam ou que simplesmente pulam e dos corpos que aquecem e transpiram e das gentes que sonham sem parar.
Chamemos as luzes de Natal tão urgentes que são para os mais velhos, sobretudo para aqueles que têm saúde e aguardam a aposentação ou já a conseguiram. Precisamos dessa camada tão importante da população, que desveladamente alimentamos, para que tragam um sorriso aos mais jovens, uma atenção aos passantes, uma pedagogia descomprometida, um saber guiar sem comando, uma tolerância e um respeito pelos que agora se adentram no mundo difícil, um amparo, um resguardo nas horas difíceis de todos os que carecem.
Velhos ou idosos, sintam em vós as luzes de Natal e venham ao mundo mostrar compreensão pelos estranhos, alegrar-se com as extravagâncias dos inexperientes, aguardar com subtileza o desabrochar dos incautos, extasiar-se com a vitalidade da mudança, apontar educadamente o vosso exemplo, criar coisas novas ou preparar honradamente a vossa partida.
Acendam-se as luzes de Natal. Viva o Natal!
sábado, 20 de dezembro de 2008
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