domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vergonha de cão

Pouco há de mais lamentável do que um povo de gatas, a silenciar por medo, pusilânime doutorado em ditaduras, a desculpabilizar os botas toscas que o esmagam. Povo de merda, levanta-te!

Um tipo que se deixa chamar de magistrado tem qualquer coisa de menos bom. Fica em regime de prova. Se fizer fé num nariz de GNR, quando lhe compete mandar cheirar pelos meios adequados de cão, ganha aquela patine porcalhoca dos labregos. Portugal está abananado por gente desta. Na Madeira, uma ilha, durante 8 anos não encontram um carro despistado . Qual montanha, qual quê, absoluto desleixo. Alguém é despedido? Que interessa isso, ontem foi a idosa, anteontem a condutora, amanhã és tu. Levantares-te para quê, se tens o destino traçado? São milhares de funcionários a mordiscarem o orçamento, os marinheiros a jogarem às cartas, em vez de perscrutarem o mar por mais um veleiro que se perde à entrada da barra, uma vergonha internacional. Nada faz levantar esta corja de rastejadores.

Em qualquer democracia, noutro país, claro, um político que tivesse beneficiado daquele contrato publicitário de Luís Figo com o Tagusporque – e basta a suspeita relevada num despacho judicial – estaria preso, demitido, coberto de vergonha. Aqui, na parvalhónia dos pusilânimes, Sócrates berra e ameaça, ai de quem o diga, e ninguém diz. A corja imunda dos jornalistas, fétidos.

O CDS reelege Portas, o tipo do escândalo dos submarinos, que está contra o endividamento e que, com aquelas bostas submergíveis, afundou o orçamento de Estado. Um CDS queimado no caso Portucale acha que pode apresentar-se ao eleitorado, e apresenta-se com os mesmos tipos, envergonhando-nos a todos. Esquecendo a linhagem saudosista do Estado Novo que muitos deles representam, não pode esquecer-se que são falsos liberais, falsos cristãos, oportunistas coxos, que agora tolhem o pensamento e o horizonte.

O BE será governado por Mário Soares, o PC por Sócrates. Assim se define a esquerda paralamentar. Então, sob uma crise monumental, aqueles falsos partidos, traidores do povo, têm um discurso igual ao CDS: os reformados (quando dizem reformados e pensionistas percebe-se logo que são falsários), os trabalhadores (quando dizem trabalhadores e desempregados percebe-se logo que são filhos da puta), os lucros da banca (então os lucros dos supermercados? Esses sim escandalosos, por que não o dizem, são subsidiados para calar?), a produção nacional (produzir com os meios do capital, nisto não se distingue o PC do CDS e o BE tem muitas sugestões úteis aos donos das coisas), a agricultura (um bruá de que todos comungam hipocritamente). Uma vergonha, num país decente eram corridos a cuspo.

Então a alternativa (alternativa para o portuga de gatas é como nas touradas: um exame de admissão a partir do qual já não se questiona o direito de participar), a alternativa é o PPD/PSD? Um partido que nem o nome escolhe? Nem o dirigente escolhe com o mínimo carácter de permanência? Um partido que não tem programa, não é nem liberal, nem conservador, nem social-democrata? O partido das propostas claras que se resumem a querer formar governo, a distribuir tachos, a pôr a dignidade acima do povo, o negócio acima da transparência, que invariavelmente, cada vez que chegam ao poder, se enchem de casos de corrupção, de poucas-vergonhas orçamentais, de toma lá um terreno, dá cá um tacho? Vocês portugas de gatas continuam à espera que estes tipos achem um candidato a primeiro-ministro que não seja completamente bronco, que não pretenda falar francês com um francês sobre um assunto nacional, à frente da televisão? Pois se estão, perdem o direito a perguntar-se porque é que os vossos pais e avós se submeteram ao fascismo. Na verdade, já não perguntam, sabem que, em termos de dignidade, são europeus de segunda.

Do PS, o partido iníquo dos oportunistas, o partido com o QI mais baixo da história, onde qualquer atrasado mental encontra protecção para chegar a professor catedrático, a ministro, a filho da puta. É esse o problema do PS: está cheio de oligofrénicos disfarçados, lavadinhos pelas mães e vestido no Rosa e Teixeira passam por intelectuais. Uma corja lamentável de tipos grosseiros, maus e broncos, vindos do Estado Novo e do partido comunista, vendidos aos estrangeiros por Mário Soares (a única inteligência que lá anda, com a do negociante Almeida Santos), à babuja de tachos, sem conhecerem o irmão, sem cuidarem da honra, corruptos, miseráveis. Quem poderia chefiá-los, senão um zarolho? Como é possível que aquela empregada de escritório tenha chegado a ministra da segurança social, sem valores, nem princípios, nem discurso? Enfim, a lista é interminável!

Continua pois agachado no teu canto, não te despistes, não fales, obedece, silencia. Isto não te diz respeito, sim, não é nada contigo. Tu és um simples mortal rame-rame, os assuntos do Estado não te dizem respeito. Para isso precisarias de receber o dom que distingue os animais dos humanos: a vergonha. Também precisarias de moderar essa tendência para morder a mão que te ajuda – mas isto não és capaz, pois não?

sábado, 15 de janeiro de 2011

Presidenciais: geriatria fascistoide

Maurice Duverger desenvolveu o conceito de semi-presidencialismo da V República Francesa precisamente na época em que Portugal de Abril tentava construir um novo regime político. Aliás Portugal abriu caminho para dezenas de outras novas democracias, na Europa, em África e na América. É necessário ter em conta que Duverger acreditava que construía uma ciência e se considerava a ele próprio um cientista (título que, por pura genialidade, lhe deve ser reconhecido).

Ganhou então foros de lei social a crença de que as sociedades periféricas com democracias recentes poderiam conhecer estabilidade política adoptando o regime semi-presidencial. Basicamente, o controlo do Governo é parcialmente deslocado do parlamento para o presidente, cuja legitimidade é aumentada pela eleição directa. Jorge Miranda teve influência na arquitectura do regime português, e tem-no exportado, com o beneplácito da Europa liberal e da Igreja Católica, para as ex-colónias portuguesas. O semi-presidencialismo persiste em Cabo Verde, São Tomé e Timor, falhou na Guiné e tenta furar Angola e Moçambique, na mira do fim das actuais ditaduras.

Aquele sistema difere das democracias tradicionais, como a Inglesa, por atribuir ao presidente uma função moderadora que deveria caber ao parlamento e, em caso de impasse, ao eleitorado. Parece que há uma minorização do povo, que não é chamado a intervir nos momentos de crise. Mas na verdade há uma inferiorização do parlamento, que não assume suficiente responsabilidade perante as dificuldades, desculpabilizando os partidos pelos deputados que escolhe, pois a responsabilidade pode ser atribuída ao presidente, e é sempre possível discutir sobre a actuação dele. Daí que o único partido até hoje castigado pelo eleitorado tivesse sido o PRD, precisamente de raiz presidencial, dependente do spinolista Eanes.

Não se verifica que a instabilidade constante da Bélgica ou da Itália, países parlamentaristas, haja prejudicado o desenvolvimento económico, os negócios e a vida social, ou que conduza a eleições excessivas, que coloquem “o poder na rua” - esse temor dos estatistas, secretistas e negociantes, que o povo conserva devotamente no poder. Verifica-se sim que a desresponsabilização do parlamento operada pelo semi-presidencialismo conduz a corrupção, a populismo, a baixa qualidade dos deputados e a manobrismo dos partidos. Aumenta também a influência política externa ao transferir os assuntos do Estado para a esfera privada do presidente, dos chefes de partido e do primeiro-ministro. O semi-presidencialismo é pois um regime do terceiro-mundo, a par das ditaduras mais ou menos disfarçadas.

Preferimos neste blogue o parlamentarismo e o aumento da judiscialização dos actos políticos com efeitos sobre o orçamento. Dito isto, é evidente que não gostamos de eleições presidenciais: fazem sentido nos Estados Unidos ou em França, regimes presidencialistas, e em Cabo Verde ou Timor, regimes pré-democráticos que transferem para o presidente os assuntos de Estado. Em Portugal, tem conduzido a uma falsa alternância entre PS e PSD, que nunca são efectivamente responsabilizados e vão mudando de saia e camisola de eleição em eleição, com um despudor lamentável. E permite também que o PCP e o CDS vegetem na babuja do orçamento, sem chama nem um resquício de inteligência. A ideia de partido-empresa é tão boa em Portugal, que até imventaram mais um: o BE. Na verdade, aquilo dá dinheiro, muito.

A presente campanha eleitoral avisa dos perigos futuros do semi-presidencialismo: os candidatos são demasiado velhos e sem percurso conhecido (salvo Cavaco), pois a função de deputado que alguns deles assumiram nada nos diz sobre as suas ideias e aquele que tem uma empresa de assistência médica aos estrangeiros pobres ou o outro que berra na Madeira, têm um passado vazio. Mas observe-se como discursam, como concentram em si o destino do povo, se eu não for eleito vocês serão uns infelizes, se eu for eleito resolverei os vossos problemas, eu sou digno de confiança, mais do que outros, eu sei o que vou fazer, confiem em mim. Que raio, que treta de conversa é esta senão um discurso fascistoide do homem providencial, um Sidónio salvador do povo, da populaça e das madames fru-fru?

Tenhamos maturidade! Portugal é um dos países mais ricos do mundo. Tem uma longa história, que ensina democracia à Bélgica e à Itália. Mandemos às urtigas os pelintras que não aceitam o serviço nacional de saúde e que, na velhice, querem andar com um médico e uma unidade anti-AVC atrás deles, paga por nós, e querem pôr a família em boas posições nas grandes empresas (como estão os filhos de Sampaio, de Cavaco, todos por elevado mérito pessoal). O peso de negociatas e de mini-seita que os presidentes geram (Eanes foi um general a sério nessa matéria) é pernicioso. Sabemos que nenhum deles tem ou pode ter uma solução para a economia. E sabemos também que vem aí uma crise que exige soluções inovadoras.

Então, Prof. Jorge Miranda acabe lá com o semi-presidencialismo.