Já houve um crítico austero que não viu senão trivialidades nas novelas de Camilo (Castelo Branco) e até incoerência (esse delito menor do purismo). Deixou escola, que se pegou aos críticos do “Público” quando, à míngua de comissões, comentam os filmes da semana. Assim desgraçam Robert Zemeckis ou David Cronenberg, este mais claramente que aquele, na genial abordagem que fazem ao subterrâneo tema também tratado na novela camiliana “O Comendador” (in Novelas do Minho - http://www.gutenberg.org/etext/21406). Não se deixe levar pela retintíssima ignorância daqueles que deveriam ser os mensageiros das novidades e vá ver, urgentemente, Beowulf e Eastern Promises (a tradução portuguesa falhou rotundamente). Se descobrir a relação entre aqueles filmes e a novela de Camilo, ganha uma entrada no céu.
"I am just the driver", diz o enigmático motorista do filme de Cronenberg.
sábado, 8 de dezembro de 2007
Beowulf e Eastern Promises - 2 filmes a não perder
Joe Morris Emsemble no Teatro Lethes a 7/12
Parecem três personagem tiradas de um filme de David Lynch. Encaixam na perfeição no Lethes com fundo escarlate. No início, a música revela uma improvável sintonia entre um baterista psico, um saxofonista esquizo e um guitarrista recém recuperado de uma orquite aguda. Surpreendentemente, abre-se num exercício de encantador de serpentes, em espiral. Imparável, contida e intensa, recria uma noite transfigurada em colete de forças, talvez o momento mais fulgurante. Após duas curtas demonstrações de onanismo virtuosista, parte em debandada, ares fora, roçando a atonalidade, perseguindo uma galinha tonta em contramão no sem-fim do matadouro. Translúcida, ritmicamente precisa, exposição de motivos deliciosamente desenhada.
Enfim, um espectáculo olvidável para quem coçou a cabeça; mas rampa de lançamento para quem se deixou embarcar.
Enfim, um espectáculo olvidável para quem coçou a cabeça; mas rampa de lançamento para quem se deixou embarcar.
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