sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd


Na depauperada movida farense, campeiam os empresários de surrar salários mínimos, das pipocas de ouro, da publicidade ad nauseam, do ludibrio do público. Entre o vazio cénico de pecinhas ridículas, tiradas do verdete da má língua e do estresse de trazer por casa, pedantismos folclóricos e exposições de preguiçosos com solução à vista, bem melhor estamos na penumbra da sala a curtir Scriabin ou Carlos Marecos.

Eis porém que Tim Burton regressa à genialidade, e chega a Faro.
Um filme plástico - um dos mais plásticos de sempre (quase se sente a viscosidade, quase se vagueia por entre os remoinhos tridimensionais que sacodem a tela) - com música profunda, aprendida dos grandes sábios (Schumann?), que só quando em vez descai para o vaudeville. Não perca tempo a ler as letras. Milhões de pormenores perturbadores, signos secretos, alegorias encriptadas, gozo absoluto com o realismo cinematográfico (atenção às chaminés, aos segundos planos que umas vezes são vivos e outras apenas cenário, aos figurantes que passam duas vezes, aos cantores que se desencontram das canções), tudo representa uma força misteriosa.

Uma história moral, necessária a todos os que receiam o regresso ao abuso e à pobreza. A personagem moral será a criança, que se redime do álcool, suplanta a miséria e alcança plena autonomia e liberdade? E uma lição: desconfia, se te sentes fraco.

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