terça-feira, 13 de outubro de 2009

O poder da imprensa

O recente debate na RTP1 entre jornalistas que se acusavam mutuamente, invocando critérios deontológicos, da publicação ou não publicação de notícias encomendadas por fonte anónima (Diário de Notícias, que publicou o e-mail sobre a suspeitada vigilância do PS a Belém, Expresso, que não a publicou, e Público, que publicou e não publicou), tem resposta plena no aforismo 447 de “Humano Demasiado Humano”, que Nietzsche publicou em 1886:


O poder da imprensa consiste no facto de cada indivíduo, que se encontra ao seu serviço, apenas se sentir muito pouco comprometido e vinculado. Habitualmente, ele exprime a sua opinião, mas, um dia, também não a diz, para ser útil ao seu partido ou à política do seu país ou, por fim, a si próprio. Tais pequenos delitos de desonestidade, ou, talvez, simplesmente de um desonesto sigilo, não parecem graves para o indivíduo, contudo, as suas consequências são extraordinárias, porque esses pequenos delitos são cometidos por muitos, ao mesmo tempo. Cada um destes diz para consigo: «Por tão ínfimos serviços, vivo melhor, posso encontrar a minha subsistência; com a falta dessas pequenas atenções, torno-me impossível.» Porque, moralmente, parece quase indiferente escrever mais uma linha, ainda por cima talvez sem assinatura, ou não a escrever. Uma pessoa, que tenha dinheiro e influência, pode transformar qualquer opinião em opinião pública. Quem, nessas circunstâncias, sabe que a maior parte dos homens são fracos, quando se trata de ninharias, e quer alcançar os seus próprios fins por meio delas, é sempre um homem perigoso.


Moral da história: o diabo que escolha quem é mais perigoso, a fonte anónima que manobra a notícia ou o jornalista, que a publica ou não publica.

1 comentário:

O Amigo Zé disse...

o artigo está SUPER-pertinente e actualíssimo. Parabéns!

um abraço para ti

jac