segunda-feira, 26 de julho de 2010
ALLgarve gera polémica
A expansão da marca ALLgarve está em risco depois de Sebastião Benquisto, chairman da SeaLife&Funny, ter declarado que "não descarto a hipótese de a ALLqaeda vir a adoptar o nosso figurino". As autoridades americanas retiraram de imediato os projectos previstos para ALLabama e ALLaska. Eduardino Lusitano, presidente do Gabinete Organizador da Marca Allgarvia, confessou-se consternado, mas não derrotado. A parceria com a Sea Life&Funny, prestigiada empresa no segmento de marketing, está a ser reponderada. Eduardino Lusitano prefere realçar, para já, o excelente desempenho da SeaLife na adaptação do conceito a ALLmancil e no incremento das negociações com o município de Almada. "A candidatura de ALLmada abre boas perspectivas para o mercado interno", salientou.
Fuzeta: tira-se o chapéu
Espectacular trabalho de reabilitação da Ilha da Fuzeta. A praia da ilha está óptima, muito melhor que a do Ancão. Tira-se o chapéu. E se for levado até ao fim, como parece, far-se-á vénia. A nova barra precisa de molhes de protecção e a Praia dos Tesos de um novo lençol de areia. A ver se a onda não pára. Para já, parabéns aos técnicos e autoridades. Correm riscos bem calculados, e contam connosco.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Sida: o Gel da Serpente
Há coisas muito actuais que fazem lembrar o Ovo da Serpente, o polémico filme de Ingmar Bergman.
A primeira é a estonteante facilidade com que a comunicação social dá eco, ad nauseam, de qualquer notícia que emane de fonte de autoridade sob matéria de interesse relevante. Propagação acéfala, acrítica, imponderada, muitas vezes mera reprodução dos comunicados de imprensa de organismos politicamente activos. Em tais casos, cabe perguntar para que serve a imprensa. E percebe-se que serve para corroborar, directa ou indirectamente, o efeito que alguma entidade pretende produzir, levando ao convencimento do público, tanto através da credibilidade de que ainda desfruta entre os incautos, como talvez mais ainda pelo cansaço da repetição inútil.
Fazendo tábua rasa dos ridículos géis de outrora (espermicidas e bactericidas), surge agora um estudo que anuncia um gel que permite a 54% das mulheres que o usam rigorosamente duas vezes por dia evitar o contágio de HIV em relações com o parceiro habitual. Se o usarem mais de 30 meses seguidos, o gel perde a eficácia. Se o usarem apenas em 80% das relações a percentagem baixa para 29%. A experiência fez-se na África do Sul com um grupo de 450 mulheres casadas cujos maridos se recusam a usar preservativo. Aquele grupo foi comparado com outro de iguais características a que foi ministrado um gel sem efeitos medicinais, mero placebo, e que desconhecia este facto. Neste segundo grupo, a incidência de sida foi de 60 casos, face a 38 casos no grupo com gel anti-viral.
À vista desarmada, parece que 60 para 450, não difere muito de 38 para 450, quando se está perante uma doença mortal: uma relação de 13% para 8%. A diferença pode dever-se simplesmente à maior ou menor promiscuidade dos homens ou ao maior risco assumido por alguns deles, sendo de todo impossível avaliar comportamentos privados em pessoas não sujeitas à experiência (que visou apenas as mulheres).
Mas é chocante admitir que tantas mulheres estiveram enganadas com um placebo, durante tanto tempo, quando bastaria controlar e identificar o grupo para garantir idêntica estatística. É muito chocante constar que 60 mulheres contraíram a doença, crendo que o gel as poderia proteger! É uma experiência macabra, violenta, manipuladora, que despreza o bem precioso da vida. Um sacrifício que ombreia com o médico nazi do Ovo da Serpente.
É ultrajante que o combate à doença não enfrente os preconceitos discriminatórios vigentes em muitas comunidades africanas, e procure adaptar a medicina e a saúde a comportamentos de exploração do trânsito sexual, a menosprezo da dignidade das mulheres, perante o marido relapso e inconsequente. Sabe-se que a incidência da sida é directamente proporcional à falta de liberdade e de auto-determinação sexual, quantas vezes acompanhada de situações de pobreza grave, opressão e violência. Uma sociedade assim não é machista, é paranóide e auto-destrutiva. Um Estado que contemporiza com tais desmandos, que não enceta campanhas, hoje tão banais, de informação e divulgação, de distribuição de preservativos e de perseguição dos contaminadores intencionais é um Estado que tem um óbvio interesse na degradação da sua própria população, que vive do flagelo e encontra nos seus efeitos forças para se impor e quebrar resistências. A África do Sul é um estendal infindável de Apartheids, a que é preciso pôr cobro.
Não. Efectivamente pretende-se atingir um objectivo ainda por esclarecer. Se se somarem as notícias de que, crendo que reduz o risco de contágio de HIV, Bill Gates financia a circuncisão em África, tendo sido já realizadas cerca de 60.000 intervenções, e se se investigarem os boatos de que se propõe desenvolver vacinas que reduzam a fertilidade humana, com o propósito de reduzir a população mundial, temos de achar, sem medo de conspirações, que algo de não revelado se vai fazendo, com o apoio dos governos mundiais. Note-se aliás que África nem sequer é um continente com problemas de sobrepopulação e que tem riquezas naturais imensas sub-exploradas.
Para já, seria tão bom que conseguissemos voltar a ter imprensa!
A primeira é a estonteante facilidade com que a comunicação social dá eco, ad nauseam, de qualquer notícia que emane de fonte de autoridade sob matéria de interesse relevante. Propagação acéfala, acrítica, imponderada, muitas vezes mera reprodução dos comunicados de imprensa de organismos politicamente activos. Em tais casos, cabe perguntar para que serve a imprensa. E percebe-se que serve para corroborar, directa ou indirectamente, o efeito que alguma entidade pretende produzir, levando ao convencimento do público, tanto através da credibilidade de que ainda desfruta entre os incautos, como talvez mais ainda pelo cansaço da repetição inútil.
Fazendo tábua rasa dos ridículos géis de outrora (espermicidas e bactericidas), surge agora um estudo que anuncia um gel que permite a 54% das mulheres que o usam rigorosamente duas vezes por dia evitar o contágio de HIV em relações com o parceiro habitual. Se o usarem mais de 30 meses seguidos, o gel perde a eficácia. Se o usarem apenas em 80% das relações a percentagem baixa para 29%. A experiência fez-se na África do Sul com um grupo de 450 mulheres casadas cujos maridos se recusam a usar preservativo. Aquele grupo foi comparado com outro de iguais características a que foi ministrado um gel sem efeitos medicinais, mero placebo, e que desconhecia este facto. Neste segundo grupo, a incidência de sida foi de 60 casos, face a 38 casos no grupo com gel anti-viral.
À vista desarmada, parece que 60 para 450, não difere muito de 38 para 450, quando se está perante uma doença mortal: uma relação de 13% para 8%. A diferença pode dever-se simplesmente à maior ou menor promiscuidade dos homens ou ao maior risco assumido por alguns deles, sendo de todo impossível avaliar comportamentos privados em pessoas não sujeitas à experiência (que visou apenas as mulheres).
Mas é chocante admitir que tantas mulheres estiveram enganadas com um placebo, durante tanto tempo, quando bastaria controlar e identificar o grupo para garantir idêntica estatística. É muito chocante constar que 60 mulheres contraíram a doença, crendo que o gel as poderia proteger! É uma experiência macabra, violenta, manipuladora, que despreza o bem precioso da vida. Um sacrifício que ombreia com o médico nazi do Ovo da Serpente.
É ultrajante que o combate à doença não enfrente os preconceitos discriminatórios vigentes em muitas comunidades africanas, e procure adaptar a medicina e a saúde a comportamentos de exploração do trânsito sexual, a menosprezo da dignidade das mulheres, perante o marido relapso e inconsequente. Sabe-se que a incidência da sida é directamente proporcional à falta de liberdade e de auto-determinação sexual, quantas vezes acompanhada de situações de pobreza grave, opressão e violência. Uma sociedade assim não é machista, é paranóide e auto-destrutiva. Um Estado que contemporiza com tais desmandos, que não enceta campanhas, hoje tão banais, de informação e divulgação, de distribuição de preservativos e de perseguição dos contaminadores intencionais é um Estado que tem um óbvio interesse na degradação da sua própria população, que vive do flagelo e encontra nos seus efeitos forças para se impor e quebrar resistências. A África do Sul é um estendal infindável de Apartheids, a que é preciso pôr cobro.
Não. Efectivamente pretende-se atingir um objectivo ainda por esclarecer. Se se somarem as notícias de que, crendo que reduz o risco de contágio de HIV, Bill Gates financia a circuncisão em África, tendo sido já realizadas cerca de 60.000 intervenções, e se se investigarem os boatos de que se propõe desenvolver vacinas que reduzam a fertilidade humana, com o propósito de reduzir a população mundial, temos de achar, sem medo de conspirações, que algo de não revelado se vai fazendo, com o apoio dos governos mundiais. Note-se aliás que África nem sequer é um continente com problemas de sobrepopulação e que tem riquezas naturais imensas sub-exploradas.
Para já, seria tão bom que conseguissemos voltar a ter imprensa!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Faro, o esplendor em estupefação
Não haverá terra mais bafejada pela natureza do que a Ria Formosa. Clima espectacular, praias longas, espelhos de água rica de vida comestível, pacatez, campo de frutos únicos, romãs celestiais e nêsperas cupidianas, figos entumescentes, que brotam de árvores morrendo sem cuidado algum do humano vegetante.
No entanto, conseguiu-se tornar a Campina numa das zonas mais poluídas da Europa por nitratos de origem agrícola (vide inag.pt). Perde-se a actividade agrícola, esquecem-se os primores que fizeram a fortuna do Algarve. Sabe que Eugénio de Almeida, o homem mais rico de Portugal de oitocentos, engrandeceu com o comércio de frutos secos destinado a América? Inesquecíveis amêndoas macias e doces hoje substituídas pelas californianas, dedosas, duronas, indigestas a partir da sétima.
A ria que limita Faro é um paraíso de canais encantatórios, bordejando as margens barrentas da cidadezinha, onde se acumula lixo e animais mortos. Botes anados labutam contra os cabeços da vazante, aguardando a esporádica pescaria no canal grande. Consideram-se privilegiados os que têm embarcação ancorada na marina fotogénica, embora não consigam sair ou entrar acima de meia maré por força da ferrovia centenária.
Os farenses, sempre avant la lettre, acham que é mais fácil arrancar a linha do comboio inteira do que imaginar uma solução para a passagem dos barquitos. Há cinquenta anos que o acham, intemeratos. Os derrotistas, assustados com as intempestivas proibições de circulação na ria e na ilha, acham que já não vale a pena ter barco. Os investidores alimentam, pelo contrário, planos de uma marina contada, coisa que em Portugal consiste nuns passeios largos com palmeiras, bancos de granito, esplanadas, um hotel de apoio, três concessões de restaurantes caros e alguns barcos duns tipos que a gente não conhece. Qual barcos, qual quê! Ao povo bastam os automóveis e a ria fica reservada.
Comparada com aquelas pequenas cidades de Trás-os Montes, tão ufanosas e apirolitadas, Faro assusta de atraso e degradação, ruínas, sujidade e caras trombudas de maus modos e olhar ostensivo. Tenha-se presente que, a seguir a Lisboa, Faro tem o maior indíce de pagamento de IRS por habitante do país. Será terra de gente rica, quiçá.
Quando parece que algo de novo a suplanta, como o bunker do teatro, logo se vão chegando às restrições, às exclusividades, às coisinhas giras, à música de boas intenções que não pára de prometer dias melhores. Até o raio do cartaz que pespegavam na gigantesca parede fronteira do teatro foi substituído por um placard publicitário electrónico que muda tão rapidamente que não se aproveita uma imagem, sequer de publicidade a pneus, um desconchavo que lá põem.
Deve ser uma terra desagradável para a maioria dos que cá vêm trabalhar, pois, logo que os deixam sair dos empregos, preferem meter-se na 125, à compita pelo direito de dominar as rotundas com os carritos adoráveis que conduzem. O exercício de tal direito dá-lhes um gozo tão grande que mantêm um ar paciente enquanto esperam longamente pela vez.
Nestes dias de calor ainda sem férias a praia de Faro enche-se de corpos lindos, garbosos, alegres, um must! Pena a porcaria da areia que de poeirenta se vai emporcalhando dia após dia. A não perder, a ronda de moto quatro que percorre a zona concessionada, por entre crianças brincando, jovens jogando e senhoras a caminho da toalha, com um marinheiro tipo Querelle acoplado num banhista condutor, ambos muito seráficos, compenetrados e incomodativos para os demais.
Um pouco mais longe, é obrigatória a Culatra, a aldeia da ilha de areia, com um povo sepilhado a vento e sol, agora ameaçado de destruição pela especulação imobiliária, que parece que não há quem não queira uma barraca de praia permanente. Se não forem destruídos por aí, são-no pelas regras de controlo: quem tem casa em terra, herdada ou não, perde a da ilha! Regra arbitrária e obviamente injusta, que ignora a comunidade. Lá se desenrascam a dividir famílias, a dizer que esta é só minha, ainda em sufoco, ignorando o dia de amanhã.
Faro, no entanto, resplandece. E não há estupefação que resista a uma ténue aragem de maresia, numa manhã quente mirando o mar, à espera do peixe assado, de que Faro é a verdadeira capital.
No entanto, conseguiu-se tornar a Campina numa das zonas mais poluídas da Europa por nitratos de origem agrícola (vide inag.pt). Perde-se a actividade agrícola, esquecem-se os primores que fizeram a fortuna do Algarve. Sabe que Eugénio de Almeida, o homem mais rico de Portugal de oitocentos, engrandeceu com o comércio de frutos secos destinado a América? Inesquecíveis amêndoas macias e doces hoje substituídas pelas californianas, dedosas, duronas, indigestas a partir da sétima.
A ria que limita Faro é um paraíso de canais encantatórios, bordejando as margens barrentas da cidadezinha, onde se acumula lixo e animais mortos. Botes anados labutam contra os cabeços da vazante, aguardando a esporádica pescaria no canal grande. Consideram-se privilegiados os que têm embarcação ancorada na marina fotogénica, embora não consigam sair ou entrar acima de meia maré por força da ferrovia centenária.
Os farenses, sempre avant la lettre, acham que é mais fácil arrancar a linha do comboio inteira do que imaginar uma solução para a passagem dos barquitos. Há cinquenta anos que o acham, intemeratos. Os derrotistas, assustados com as intempestivas proibições de circulação na ria e na ilha, acham que já não vale a pena ter barco. Os investidores alimentam, pelo contrário, planos de uma marina contada, coisa que em Portugal consiste nuns passeios largos com palmeiras, bancos de granito, esplanadas, um hotel de apoio, três concessões de restaurantes caros e alguns barcos duns tipos que a gente não conhece. Qual barcos, qual quê! Ao povo bastam os automóveis e a ria fica reservada.
Comparada com aquelas pequenas cidades de Trás-os Montes, tão ufanosas e apirolitadas, Faro assusta de atraso e degradação, ruínas, sujidade e caras trombudas de maus modos e olhar ostensivo. Tenha-se presente que, a seguir a Lisboa, Faro tem o maior indíce de pagamento de IRS por habitante do país. Será terra de gente rica, quiçá.
Quando parece que algo de novo a suplanta, como o bunker do teatro, logo se vão chegando às restrições, às exclusividades, às coisinhas giras, à música de boas intenções que não pára de prometer dias melhores. Até o raio do cartaz que pespegavam na gigantesca parede fronteira do teatro foi substituído por um placard publicitário electrónico que muda tão rapidamente que não se aproveita uma imagem, sequer de publicidade a pneus, um desconchavo que lá põem.
Deve ser uma terra desagradável para a maioria dos que cá vêm trabalhar, pois, logo que os deixam sair dos empregos, preferem meter-se na 125, à compita pelo direito de dominar as rotundas com os carritos adoráveis que conduzem. O exercício de tal direito dá-lhes um gozo tão grande que mantêm um ar paciente enquanto esperam longamente pela vez.
Nestes dias de calor ainda sem férias a praia de Faro enche-se de corpos lindos, garbosos, alegres, um must! Pena a porcaria da areia que de poeirenta se vai emporcalhando dia após dia. A não perder, a ronda de moto quatro que percorre a zona concessionada, por entre crianças brincando, jovens jogando e senhoras a caminho da toalha, com um marinheiro tipo Querelle acoplado num banhista condutor, ambos muito seráficos, compenetrados e incomodativos para os demais.
Um pouco mais longe, é obrigatória a Culatra, a aldeia da ilha de areia, com um povo sepilhado a vento e sol, agora ameaçado de destruição pela especulação imobiliária, que parece que não há quem não queira uma barraca de praia permanente. Se não forem destruídos por aí, são-no pelas regras de controlo: quem tem casa em terra, herdada ou não, perde a da ilha! Regra arbitrária e obviamente injusta, que ignora a comunidade. Lá se desenrascam a dividir famílias, a dizer que esta é só minha, ainda em sufoco, ignorando o dia de amanhã.
Faro, no entanto, resplandece. E não há estupefação que resista a uma ténue aragem de maresia, numa manhã quente mirando o mar, à espera do peixe assado, de que Faro é a verdadeira capital.
domingo, 4 de julho de 2010
Para acabar de vez com “Câmara Clara” e outras tretas da RTP
Pouco há de mais triste do que assistir ao anúncio público de que um velho não é virgem e mais triste ainda se é um poeta e o diz na própria pessoa. A virgindade seria sim uma imensa abertura para um mundo novo, uma recriação verdadeira da alma prestes à consumação, como Inês perante Tristão. Agora um velho que esteve em Londres quando novo e faz uns versos, que hoje é uma prosa graficamente sincopada, curta e de segredos escondidos, como um gato de bigodes longos e farfalhudos à espera da deita da dona para se lançar sobre os copos sujos da cozinha, esse velho de queca recordada, babujona, parece-se com um porco de dentes lavadinhos, sem a esponsal de circunstância de tempos idos, idos, idos. Ah! Quem dera a pureza intocável de um basculino estumescido, mãos arrepiadas sobre os lençóis e os olhos fitos no pecado que esvoaça pelas vielas esconsas. Nisso, Virgílio Ferreira continuará imbatível. Um poeta virgem, por fim o milagre. Um poeta é um aldrabão, tudo bem, mas se gabarola, é uma rolha!
Que há de mais triste do que essa conversa de que fui feliz em Londres, que andava descalço e esfomeado, com fartura de gajas. E a cultura, o museu da porra onde as engatava e o livro no jardim, mesmo à chuva, por onde ela passava e se admirava da minha persistência no livro e no seu caminhar e no pão quentinho que me matava a fome no seu quartito ridículo onde me abraçava e mimava. À porta de qualquer liceu três pretos, que podiam ser brancos, discorrem sobre as distintas calosidades de todas as pachachas do mundo com maior profundidade boceira que esse poeta de pés curtos e verve dormente, que não se cala sobre um passado mesquinho de pão e calor.
Que há de mais triste, sendo porventura poeta, que passar a vidita a desditar a melosa de pechisbeque que sim que também ela pode sentir a profundidade inigualável que o levou à viagem insuperável da escrita sobre os corpos pobres das sopeiras de Londres, sobretudo se se calar e der ao trabalho de ouvir os convidados. Sextas-feiras de borracheira supridas por recolhimentos necessários no tal quartito, uma vez ali, outra vez acolá. Ah! Quem me dera o cuartito 22 de La Sonora Matancera!
Há ainda uns tipos a lerem num visor que na sala está onde nós estamos e ainda assim não sabem onde pôr os braços e os movem como autómatos com olhos de borracha e líquido para chorar. Amanhã não perca, perca do Nilo! Mais uma conversa mole dum tipo de dentes perfeitos que consegue articular com os lábios cerrados, um prodígio do monocórdio que fala, obviamente, em todas línguas como um autóctone, uma treta para revolver o sono dos justos.
O pior crime do socratismo psista foi a destruição da RTP 2. Não havia necessidade, que diabo! Tanto filho-família na porra do penico é demais. Acabaram com a televisão cultural, dedicam-se a velhos sobrevivos, esses os ainda televisionáveis, que os poetas enterrados não dão entrevistas, uns merdas intoleráveis que, entre bares e festinhas de charme pútrido, se lançam aos milhares de euros que vão saindo do público erário, quais estrelinhas do jardim de infância, nas festas de Natal, ah! Que saudades! E tantos são os que não as escondem.
Alguma vez, algum critério sequer. Nã! O pivot mais sofrido não leva menos de 12 mil euros, com roupa e carro, e os directores alçam-se por aí acima, ganham quase tanto como eu, quem julgam que são. Ao menos parem com os sequeteches de vampiros e de hospitais, alarguem-se um pouco, vão para Londres, poetizem-se, deiem-se ao amor da escrita (enfim, cuidado para não ultrapassarem os lugares disponíveis nas prateleiras, à conta de heresias sem castigo, de que bem precisavam). Apetece dizer, se velhos, Bukowski, que é como quem diz: fora choco!
Que há de mais triste do que essa conversa de que fui feliz em Londres, que andava descalço e esfomeado, com fartura de gajas. E a cultura, o museu da porra onde as engatava e o livro no jardim, mesmo à chuva, por onde ela passava e se admirava da minha persistência no livro e no seu caminhar e no pão quentinho que me matava a fome no seu quartito ridículo onde me abraçava e mimava. À porta de qualquer liceu três pretos, que podiam ser brancos, discorrem sobre as distintas calosidades de todas as pachachas do mundo com maior profundidade boceira que esse poeta de pés curtos e verve dormente, que não se cala sobre um passado mesquinho de pão e calor.
Que há de mais triste, sendo porventura poeta, que passar a vidita a desditar a melosa de pechisbeque que sim que também ela pode sentir a profundidade inigualável que o levou à viagem insuperável da escrita sobre os corpos pobres das sopeiras de Londres, sobretudo se se calar e der ao trabalho de ouvir os convidados. Sextas-feiras de borracheira supridas por recolhimentos necessários no tal quartito, uma vez ali, outra vez acolá. Ah! Quem me dera o cuartito 22 de La Sonora Matancera!
Há ainda uns tipos a lerem num visor que na sala está onde nós estamos e ainda assim não sabem onde pôr os braços e os movem como autómatos com olhos de borracha e líquido para chorar. Amanhã não perca, perca do Nilo! Mais uma conversa mole dum tipo de dentes perfeitos que consegue articular com os lábios cerrados, um prodígio do monocórdio que fala, obviamente, em todas línguas como um autóctone, uma treta para revolver o sono dos justos.
O pior crime do socratismo psista foi a destruição da RTP 2. Não havia necessidade, que diabo! Tanto filho-família na porra do penico é demais. Acabaram com a televisão cultural, dedicam-se a velhos sobrevivos, esses os ainda televisionáveis, que os poetas enterrados não dão entrevistas, uns merdas intoleráveis que, entre bares e festinhas de charme pútrido, se lançam aos milhares de euros que vão saindo do público erário, quais estrelinhas do jardim de infância, nas festas de Natal, ah! Que saudades! E tantos são os que não as escondem.
Alguma vez, algum critério sequer. Nã! O pivot mais sofrido não leva menos de 12 mil euros, com roupa e carro, e os directores alçam-se por aí acima, ganham quase tanto como eu, quem julgam que são. Ao menos parem com os sequeteches de vampiros e de hospitais, alarguem-se um pouco, vão para Londres, poetizem-se, deiem-se ao amor da escrita (enfim, cuidado para não ultrapassarem os lugares disponíveis nas prateleiras, à conta de heresias sem castigo, de que bem precisavam). Apetece dizer, se velhos, Bukowski, que é como quem diz: fora choco!
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