terça-feira, 30 de março de 2010

Um conselho a Paulo Portas

Paulo Portas conquistou um polémico lugar na direita partidária, mérito que lhe deve ser reconhecido. Nota-se porém que, quando o espectro eleitoral parece mais propício ao CDS, Paulo Portas perde um pouco o auto-controlo e assume um excesso de protagonismo muitas vezes inconsequente.

Repetidamente, batalha a autoridade na educação e acaba por perder popularidade. Deve-lhe custar a compreender que, tal como ele fez com Manuel Monteiro, não há poder que não lhe ofereça esse cavalinho com rodinhas: vai de um lado ao outro do palco e sai precisamente antes das eleições. Aliás Paulo Portas exibe uma confrangedora falta de conhecimentos sobre a matéria, fazendo razia sobre os princípios liberais ou sobre os valores cristãos indiciados no próprio nome do seu partido. Dizer que os alunos devem estudar para entrarem com boas oportunidades no mercado de trabalho, fica bem na mentalidade rural, como antes se dizia ao aluno repetente que devia passar o ano para poder "tirar a carta". Na sociedade democrática, tais exortações, quando generalizadas a todas as crianças e jovens, violam as regras básicas do utilitarismo ou de qualquer outra corrente que se escolha. É como dizer aos pais que devem ter filhos para os destinar ao mercado de trabalho. Soa a qualquer coisa de Estalinista. E centra a vida no mercado, desvirtuando o humanismo e a razão de ser desse mercado, segundo os liberais.
O que falta dizer além daqueles chavões antigos, Paulo Portas não sabe. Por isso, aqui vai um conselho: tire o cavalinho da chuva; devolva-o a quem o empurrou para si.

domingo, 28 de março de 2010

Fuzeta e a praia de Moncarapacho

Tendo o mar destruído uma parte da ilha da Fuzeta, precisamente onde se ajuntavam as barracas de praia, abrem-se uma série de questões fundamentais para o futuro daquela antiquíssima terra de pescadores.

Uma das primeiras conclusões que pode desde já tirar-se é a de que, opine o povo o que quiser, discuta este grupo contra aquele, proponha algum serioso uma solução, nada disso terá qualquer influência no que for decidido e executado pelas autoridades públicas, ou seja, pelo Estado. Por três razões: 1) desapareceu o povo corajoso que exigia a barra e o porto ao fascismo, desapareceram os homens de mar de palavra grave e segura, falta o amor à terra e o respeito pelos antepassados; 2) abunda a dolência subsidiada, o falatório maledicente, a pura ignorância, a subserviência aos distribuidores do ridículo bodo que lhes vai cabendo; 3) e o Estado, que se escuda nos técnicos e depois na “falta de verbas”, não ouvirá o povo, antes continuará com vãs promessas. A Fuzeta degrada-se a olhos vistos, de ano para ano. Uma povoação feita por gente brava e intrépida está entregue a montanheiros e a boçais de garganta alçada como um punho fechado. Uma tristeza!

A mais evidente demonstração do que acima afirmamos manifesta-se no facto de, volvidos 36 anos de democracia e se calhar por causa dela, continuar a Fuzeta dividida em duas freguesias, uma da Fuzeta propriamente e outra nas extremas do território de Moncarapacho. Será a única povoação do Sul em que tal problema assume uma gravidade crucial: a Fuzeta não tem centro de saúde, escola C+S, depósito de água, salinas ou vinhas, está tudo em Moncarapacho. Torna difícil o planeamento e a justa distribuição de recursos pelo Estado. Mas distribuem-se também os votos: como a população da Fuzeta tem tendência a votar maioritariamente PS, a que cai na freguesia de Moncarapacho vota lá, pela maior parte, e assim o PS tende a ganhar nas duas freguesias. Estará aqui uma das causas da actual situação.

Vem agora o pensante observar que o mar abriu a ilha onde há 50 anos havia uma barra. E acha-se tudo muito natural. Pois é mesmo esse o problema. Na Ria Formosa as barras abrem-se onde a natureza quer. É na sua proximidade que devem fixar-se os pescadores, os portos, o turismo. Ao longo de milénios foram surgindo povoamentos nesses locais e foram desaparecendo quando as barras fechavam ou as passagens assoreavam. O caso mais conhecido é o da cidade romana de Balsa, frente à actual Luz de Tavira. Mas também se conhece o de Tavira, que foi capital do Algarve e um dos principais portos de Portugal e perdeu o cargo para Faro, pelo assoreamento e deslocação da barra. A barra do farol está onde está porque foram construídos molhes de protecção, logo no século XVIII, por várias vezes reforçados e reconstruídos. Este pormenor manteve Faro capital do Algarve, numa época em que dispunha do único porto com canal navegável para embarcações de grande calado e o transporte se fazia por barco (com o declínio do comércio marítimo, Faro mantém-se capital apenas por beneplácito do Estado). A actual barra de Tavira foi construída pelo homem. Em Cacela Velha, há alguns anos, o cordão dunar também foi destruído pelo mar e reposto pelo homem.

Portanto, se quereis manter a Fuzeta consolidada, o acesso ao mar, o porto de pequenas embarcações e o turismo, não há solução que não passe por interferir no processo natural da ria, fechar, abrir ou consolidar barras. Estas obras têm de assumir um carácter duradouro, que garanta a estabilidade da economia local.

Outro aspecto fundamental é o da protecção da natureza riquíssima e belíssima que circunda a Fuzeta. Tem de ser protegida dos abusos, seja do excesso de turistas, seja do excesso de obra, em especial a que tem caído sobre o entorno marítimo. Será errado massificar o acesso à praia num curto cordão de duna, como também o será distribuir-se veraneantes por todos os lençóis de areia. Quanto mais perto do mar estiver o porto do recreio e mais perto da ilha estiver o transporte de passageiros, menos poluição se gera. Quando se debate se deve manter-se a barra que o mar agora abriu, não pode esquecer-se uma questão essencial: hoje a Fuzeta não pode subsistir sem turismo e este sem acesso marítimo à ilha. Enfim, quanto a soluções, leia-se o segundo parágrafo deste texto.

Qualquer solução alternativa à localização tradicional da praia da ilha, coloca-a na área da freguesia de Moncarapacho, pelo menos em parte. Têm pois aqui os moncarapachenses o seu momento de glória, eles que tanto lutaram pelo reconhecimento da praia do outro lado da ponta das pedras, pobrezinhos, vão poder ufanar-se da praia de Moncarapacho. Talvez assim a Fuzeta acorde.

É preciso delimitar uma nova área da freguesia, da torre redonda à EN125, com excepção de Bias, e da EN125 até o limite do concelho de Tavira. Simultaneamente, é preciso abrir à discussão pública o planeamento do território, o que pode ou não urbanizar-se, a actividade piscatória, a localização do porto de recreio, as áreas públicas de lazer, um novo parque de campismo e infra-estruturas turísticas. É neste quadro que se joga o problema da barra.

terça-feira, 23 de março de 2010

Para uma reciclagem da Quercus

A necessidade de reciclagem do lixo doméstico é hoje uma consequência da sociedade de consumo e da comercialização desregulada de produtos industriais. As técnicas que promove são meras panaceias para um mal gigantesco. Não se trata de uma adaptação entre um utensílio e o desperdício que gera, mas de uma nova actividade comercial que nasce do facto de grande parte do utensílio constituir, logo de início, um desperdício. Se os bens de consumo pudessem voltar a ser vendidos a granel, dispensar-se-iam inúmeras toneladas de plástico e de papel. E são vendidas em pequenas embalagens individuais apenas para corresponder a um padrão de custo aparentemente atractivo para o consumidor. A empresa que vende água ou bolachas acaba por vender também a embalagem, auferindo aí um lucro referenciado ao aumento do volume de negócios. Trata-se pois de engenharia em benefício do sector financeiro. É uma questão de estratégia em sentido estrito.
O que a actual campanha de reciclagem tem de original consiste no facto de remeter para o consumidor o custo do tratamento do desperdício, eufemisticamente chamado de resíduo. Além de suportar com o seu próprio trabalho a separação e depósito do lixo, tem ainda de perder parte do orçamento público que lhe poderia ser destinado, pois é desviado para subsidiar a indústria de reprocessamento. Esta última representa o último grito de modernidade da parceria público/privado, mas é também um peso pesado, na realidade improdutivo (improdutivo no sentido da boa utilização dos recursos e também no sentido de produção industrial, que só gera riqueza quando gera bem-estar efectivo, sendo irrelevante (mera massa monetária) todo o processo de fabrico que a ele não conduza).

Colocada assim a questão, compreende-se a luta dos ambientalistas nas últimas décadas. Não se trata de propor um regresso às origens, mas de orientar a produção e o consumo num sentido amigo da natureza, que parece tão fácil como as associações entre fungos e árvores ou entre peixes limpadores e peixes carnívoros.

Quando se promove a reciclagem desligada daquele cuidado no consumo e na produção, promove-se efectivamente o desregramento da indústria, a sua dependência dos grupos financeiros e a estratégia de aumento de custos para o consumidor, além de se desrespeitar a natureza.

É aqui que a campanha da Quercus na televisão (noticiários matinais da RTP1; é a segunda vez que a ela voltamos neste blog) se afigura muito estranha, duvidosa mesmo, se se considerar a natureza de associação ambientalista que propagandeia. Reveste já uma gravidade que excede em muito a baboseira de sugerir às famílias que adoptem a tarifa bi-horária da EDP para pouparem na despesa da electricidade na lavagem da roupa, roubando o sono à vizinhança e o descanso à dona de casa, enquanto consomem exactamente a mesma energia.

A Quercus chegou agora ao ponto de publicitar umas cápsulas de alumínio comercializadas pela Nestlé destinadas a fazer café expresso com uma maquineta específica, apesar de o mercado facultar inúmeros processos de beber café em casa sem embalagens inúteis nem maquinetas abstrusas. Não se percebe como pode promover a compra de embalagens de alumínio, que é isso que efectivamente faz quando se põe ao lado do balcão de vendas da Nestlé e difunde a mesma notícia em dois dias diferentes, apenas para aconselhar os consumidores daquele produto a guardarem as cápsulas após a utilização e transportá-las de novo para o posto de venda onde aí serão supostamente encaminhadas para a reciclagem. Se isto não é publicidade à Nestlé, não sei o que é, olé.

Mas a questão ainda não se queda neste ponto. O contacto directo do alumínio com alimentos destinados ao consumo ou com o corpo humano tem sido posto em dúvida por alguns estudos que, bem ou mal, o ligam ao alzheimer e a outras doenças do sistema nervoso ou mesmo ao cancro. Por outro lado, a extracção e o processamento industrial do alumínio são altamente poluentes, tanto que se fica praticamente pelo terceiro mundo, ali para os lados do Egipto e outros.

A promoção da reciclagem do alumínio de umas cápsulas irrisórias, quando comparadas com a quantidade necessária para fazer uma porta, e há tantas portas velhas a pedir reciclagem, cheira a esturro.

É preciso relançar o debate da reciclagem, desde a origem, no problema do excesso de embalagem, mas para tanto parece que é preciso reciclar primeiramente a Quercus. Ou mesmo, se necessário, retirar-lhe o estatuto de associação ambientalista.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Advertência educativa

Os jornalistas sabem ou podem saber o que é bulling: que leiam o publicado nos jornais há alguns anos. Quanto ao curioso, que busque na net em francês. Não pode é tolerar-se uma caterva de parolos que confundem agressividade com violência e impulsividade com premeditação. Há conceitos básicos de convivência em sociedade cujo conhecimento pode e deve ser exigido a todos. Um palhaço que confunde uma criança com um delinquente precisa de inteirar-se deles.

Cerca de 20% da população portuguesa sofre de perturbações mentais; cerca de 40% vive com meios inferiores ao nível de vida médio dos anúncios publicitários de supermercado ou das telenovelas; cerca de 60% dos indivíduos que dão aulas não têm um mínimo de cultura e de formação que lhes permita dar as mesmas aulas num país do centro da Europa; 80% das crianças em idade escolar estão sujeitas a uma pressão autoritária balofa e inconsequente, que não conduzirá a uma vida adulta profícua; 99% dos adultos passaram pela escola com uma perna às costas, a cabular, à porrada, a desenfiar-se ou a marrar prá graxa (foi assim na escola privilegiada dos ricos no Estado Novo, uns tesudos em regabofe, foi no pós Abril gozo atrás de gozo, e foi nos 20 anos seguintes as meninas cabulonas a fingir que sabiam pra sacarem um tacho no Estado). Aqui está o caldo de cultura em que a imprensa socratiana, essa fábrica de foguetes, inscreve o bulling.

Comecemos pelo primeiro problema. O caso do professor suicidado esclarece-se rapidamente: havia começado a dar umas aulas de música; como qualquer professor de carreira parangona discriminatoriamente, não se trata na verdade de um professor. Depois, o termo bulling, meu caro jornalista mal intencionado, aplica-se apenas a vítimas alunos, não a chefes de sala. O caso do professor agredido com uma cadeira por um aluno de 12 anos, que vai vomitar para a casa de banho, falta no dia seguinte e recebe apoio psicológico (e se calhar ainda está de baixa) enobrece os desempregados que não querem trabalhar. Mais informativa foi a professora mordida por uma menina de 10 anos (menina e não rapariga como maldosamente aleivou esse esterco que dá pelo nome de RTP2) quando esclareceu que a menina cheirava mal e não convivia normalmente com os colegas. Uma pergunta ao Ministério da Educação: não há processos disciplinares a professores? No meu tempo de primária os meninos que cheiravam mal eram postos no fundo da sala por um dia e se reincidissem eram expulsos da escola. Será possível que no século XXI não se acudam as crianças carenciadas, de miséria ou até de doença (e pode ser uma doença!)? Trata-se de uma criança de 10 anos, que diabo!

Finalizando: torna-se evidente como dissemos anteriormente que os professores perderam posição social e não a vão recuperar. Ainda têm um belíssimo salário e boas regalias contratuais, mas também as perderão. No entanto, o que efectivamente importa dizer nesta hora difícil é que este choro dos adultos sobre a pretensa violência da criançada (no meu tempo até fervia!) corresponde a um cantar de cisne: os adultos sentem já que a nova geração não vai suportar as lautas pensões de reforma com que por ora se brindam a la regardere. Esta velhada um dia vai ter mesmo de trabalhar. Bem feita!

sexta-feira, 12 de março de 2010

A notícia que você não leu e porque não a leu

O jornalismo tem uma função social de relevo tão evidente que podemos fazer skip sobre os considerandos. Mas o relevo (na denotação geográfica de inscrição e transformação do terreno) tanto pode ser exercido informando, com objectividade e sentido dos valores, como escamoteando os factos, enchendo as notícias de fait-divers ou de títulos e frases dúbias. Ora o que se faz em Portugal atingiu uma generalizada baixa qualidade.

Dão-se breves exemplos: os acidentes não “provocam mortos”, pois estes já não reagem ao que quer que seja; os mortos não são “resgatados” (que significa libertado a troco de dinheiro); não deve dizer-se o “alegado etarra” ou o “alegado violador” (alegado corresponde às alegações de factos, motivos e razões que sustentam um pedido), é um substantivo (ou particípio do verbo) e não um adjectivo; não se diz que fulano “fala em” tal assunto, mas “de tal” assunto, e se escreveu, não se diz que falou; “Espaço de tempo” briga com Einstein, é melhor dizer período; “no dia de hoje” é tão redundante como cair para baixo; etc., etc. O disparate chega ao ponto de o Expresso anunciar que adere ao novo acordo ortográfico mas que, por não ter ainda actualizado os correctores de texto, mistura na mesma notícia frases do acordo antigo e do novo (confirme em http://aeiou.expresso.pt/queda-de-viaduto-no-ip4-causa-8-feridos=f570187).

O problema agrava-se quando as notícias são mal abordadas, sem perspectiva social e política ou com tendência para a parvoeira imbecil. Por exemplo: quando uma vingança privada é tratada por alguns jornais como linchamento popular, passa-se algo de muito grave na cabeça dos jornalistas (DN), felizmente não de todos (JN). É ainda mais preocupante quando o “Público”, que foi há muitos anos considerado “um jornal de referência”, desce ao nível de pasquim para encabeçar a 1ª página com “Professor vítima de bullying preferiu morrer a voltar ao 9º-B”. Lida a notícia não mais se refere o dito bulingue, apenas barulho dos putos na aula de música, que por maior que fosse nada tem a ver com a gravidade do título, nem se indicam elementos suficientes para estabelecer uma relação de causalidade entre o suicídio e a indisciplina. Uma tontearia chocante para os alunos e famílias ou um braço do polvo a desviar as atenções do povinho das questões de credibilidade e de instabilidade que abalam os políticos e as finanças?

É muito importante compreender que não é plausível que tão diversos jornalistas em tantos órgãos de comunicação possam reproduzir idênticas parangonas sem juízo crítico distinto (salvo algumas colunas de opinião). A coincidência é sempre estatisticamente relevante. E deve ser explicada. Um dos factores será o da retransmissão da base da notícia a partir da Lusa ou dos gabinetes de imprensa dos políticos e das empresas, que são reproduzidos em cada jornal por um aprendiz de jornalista ameaçado pela falta de tempo e pela precariedade do vínculo de trabalho (1ª grilheta). Mas, se considerarmos que os jornais e televisões têm directores e editores de informação, não se percebe por que não evitam aquelas limitações, sendo certo que enviam repórteres para os locais das notícias e podem recolher novos factos de interesse. Aqui  a coincidência dá-se sob suspeição. É que na azáfama do dia a dia apenas algumas notícias podem ter tratamento de fundo, tanto pela disponibilidade como pelos custos que envolvem. Intervêm então os conselhos de administração e os políticos influentes sobre os directores e editores, como repetidamente é reconhecido em público (2ª grilheta). Daqui resulta um jornalismo de inferior qualidade não porque a maioria destes dobre a consciência, mas porque não tem oportunidade de a construir. Para os que a tiverem haverá porventura uma 3ª grilheta.

Seleccionamos a título de exemplo o caso do viaduto do IP4. Sem dúvida que a notícia era o fluxo de trânsito ter sido abruptamente interrompido pela derrocada do viaduto, ou seja, falta de protecção dos utentes, com um morto e 4 feridos (1), para quê mais um viaduto (2), quanto custava o corte do trânsito (3), que empresas fazem e fiscalizam as obras (4), qual o papel das autoridades e que regras existem (5). No entanto, o anúncio da morte foi deliberadamente atrasado para o dia seguinte, quando se descobriu o corpo; os títulos dos jornais confundem aquela morte com um acidente de trabalho, custando a perceber como foi provocada, e omitem os acidentes de trânsito consequentes (salvo numa linha ou outra no fim da notícia); a remoção dos escombros aparece como uma necessidade para a reabertura da estrada, esquecendo-se que lá se vão os vestígios das causas do sinistro; aponta-se o apuramento de responsáveis, sabendo-se que o erro de engenharia pode ter dado causa à queda, mas só indirectamente deu causa à morte do condutor (pois a norma violada é de segurança viária; a de engenharia releva apenas no contexto da obra). Não parecem combinados?

Compare o leitor as notícias disponíveis na net (designadamente em Expresso, “Queda de viaduto no IP4 causa 8 feridos”, DN “Viaduto caiu sobre o IP4 e fez um morto”, jornal I “Queda do viaduto do IP4 faz um morto e oito feridos. Aberto inquérito”, RTP “Governo quer apurar responsabilidades em queda de viaduto no IP4” e outras. Embora não faltem à verdade, não dizem a verdade. É fácil perceber porquê, não acha?

A notícia deveria ter sido dada assim no dia 11 de Março (texto nosso elaborado a partir do conjunto das notícias então publicadas):

"IP4: Condutor esmagado por queda de viaduto

Um BMW que circulava no IP4 próximo de Amarante foi esmagado pela queda de um viaduto em construção. O único ocupante teve morte imediata. Deram-se vários despistes de veículos que travaram bruscamente para evitar o embate nos destroços. Pelo menos 4 passageiros ficaram feridos. O trânsito no IP4 está cortado em ambos os sentidos.

O desabamento do viaduto deu-se quando se procedia ao enchimento do tabuleiro com betão. Oito trabalhadores sofreram ferimentos ligeiros ao serem arrastados na queda. Durante toda a noite, procedeu-se à remoção dos escombros da estrutura caídos sobre o IP4. Um especialista ouvido pelo nosso jornal alertou para o risco de a retirada dos escombros prejudicar a investigação das causas do acidente. A empresa responsável vedou o acesso dos jornalistas ao local. As autoridades ordenaram a realização do habitual inquérito para apuramento de responsabilidades.

Nos comentários dos nossos leitores à edição on-line desta notícia estão identificados os nomes das empresas envolvidas na construção e fiscalização do viaduto."