Os jornalistas sabem ou podem saber o que é bulling: que leiam o publicado nos jornais há alguns anos. Quanto ao curioso, que busque na net em francês. Não pode é tolerar-se uma caterva de parolos que confundem agressividade com violência e impulsividade com premeditação. Há conceitos básicos de convivência em sociedade cujo conhecimento pode e deve ser exigido a todos. Um palhaço que confunde uma criança com um delinquente precisa de inteirar-se deles.
Cerca de 20% da população portuguesa sofre de perturbações mentais; cerca de 40% vive com meios inferiores ao nível de vida médio dos anúncios publicitários de supermercado ou das telenovelas; cerca de 60% dos indivíduos que dão aulas não têm um mínimo de cultura e de formação que lhes permita dar as mesmas aulas num país do centro da Europa; 80% das crianças em idade escolar estão sujeitas a uma pressão autoritária balofa e inconsequente, que não conduzirá a uma vida adulta profícua; 99% dos adultos passaram pela escola com uma perna às costas, a cabular, à porrada, a desenfiar-se ou a marrar prá graxa (foi assim na escola privilegiada dos ricos no Estado Novo, uns tesudos em regabofe, foi no pós Abril gozo atrás de gozo, e foi nos 20 anos seguintes as meninas cabulonas a fingir que sabiam pra sacarem um tacho no Estado). Aqui está o caldo de cultura em que a imprensa socratiana, essa fábrica de foguetes, inscreve o bulling.
Comecemos pelo primeiro problema. O caso do professor suicidado esclarece-se rapidamente: havia começado a dar umas aulas de música; como qualquer professor de carreira parangona discriminatoriamente, não se trata na verdade de um professor. Depois, o termo bulling, meu caro jornalista mal intencionado, aplica-se apenas a vítimas alunos, não a chefes de sala. O caso do professor agredido com uma cadeira por um aluno de 12 anos, que vai vomitar para a casa de banho, falta no dia seguinte e recebe apoio psicológico (e se calhar ainda está de baixa) enobrece os desempregados que não querem trabalhar. Mais informativa foi a professora mordida por uma menina de 10 anos (menina e não rapariga como maldosamente aleivou esse esterco que dá pelo nome de RTP2) quando esclareceu que a menina cheirava mal e não convivia normalmente com os colegas. Uma pergunta ao Ministério da Educação: não há processos disciplinares a professores? No meu tempo de primária os meninos que cheiravam mal eram postos no fundo da sala por um dia e se reincidissem eram expulsos da escola. Será possível que no século XXI não se acudam as crianças carenciadas, de miséria ou até de doença (e pode ser uma doença!)? Trata-se de uma criança de 10 anos, que diabo!
Finalizando: torna-se evidente como dissemos anteriormente que os professores perderam posição social e não a vão recuperar. Ainda têm um belíssimo salário e boas regalias contratuais, mas também as perderão. No entanto, o que efectivamente importa dizer nesta hora difícil é que este choro dos adultos sobre a pretensa violência da criançada (no meu tempo até fervia!) corresponde a um cantar de cisne: os adultos sentem já que a nova geração não vai suportar as lautas pensões de reforma com que por ora se brindam a la regardere. Esta velhada um dia vai ter mesmo de trabalhar. Bem feita!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Meu caro João Manuel
Confundir impulsividade com premeditação é, de facto, um erro grosseiro, igual a muitos outros que infelizmente pululam um pouco por todos os orgãos de comunicação social deste nosso tão pobre e triste Portugal. Já confundir agressividade com violência não é de todo descabido. Assim ao sabor da pena ( ou melhor, ao sabor do teclado) direi, sem medo de cometer grave erro, que se tratam de dois conceitos que são parentes, familiares, no mínimo por afinidade. A agressividade é uma carcterística da personalidade que em muitos casos resvala para a violência física ou psicológica, e "bulling" é um conceito geral que pode facilmente englobar essas duas manifestações. É verdade que o termo "bulling" surgiu inicialmente associado a manifestações de violência física e psicológica entre jovens estudantes ( ser a idade 8 ou 16 anos não é relevante a não ser em sede estritamente jurídica ), cujas razões para tal agressividade devem ser procuradas noutros contextos sociais que não exclusivamente na escola. Mas o termo "bulling" não se esgota somente na realidade escolar. Na raiz anglicista da palavra emerge o conceito de violência exercida por alguém ( ou grupo ) sobre outro ou outros em posição de desvantagem física ou psicológica. Ora o que acontece hoje, como aliás sempre aconteceu e que tu tão vividamente descreves, é que a Escola é o refexo da sociedade que temos, das várias formas de famílias que tecem a rede da nossa sociedade, dos vários tipos de pessoas que a compõe e cujos traços de formação ética e cultural são avessos ao saber, à cultura, ao ensino e aos seus agentes, sejam eles professores, profissionais liberais, ou qualquer agente da sociedade que se destaque na sua área por padrões de elevado profissionalismo e procedimentos que não se coadunem com a "ordem reinante" do "desenrasca", do "eu quero é o meu e que se lixe o parceiro", do "se cumpres regras e princípios é porque és parvo e eu é que sei como a gente se safa". Confundem também estes mentores da nossa "nova sociedade" conceitos tão distintos como são autoridade de autoritarismo ou disciplinadores de prepotentes. São essas confusões, maldosamente alimentadas por quem reina na divisão e nela encontra pasto para lá se perpetuar, que bailam nas cabeças dos nossos jovens que, mais ou menos inconscientemente, não percebem ( porque ninguém lhes ensina e nem estão autorizados a ensinar ) que a violência que hoje propagam sobre colegas ou professores lhes será devolvida com altíssimos juros pela vida que um dia terão ou pela vida que simplesmente não terão. "Bulling" é, em última análise, a lei do mais forte sobre o mais fraco, e essa lei evidencia-se em todas as situações da vida independentemente da relação "instituída" entre os seus agentes, com a gravidade de fazer prevalecer a força do momento sobre os princípios da ética, da civilização, do saber, da cultura, e tudo pelo simples prazer de poder afirmar que "hoje sou eu o mais forte e por isso tu submetes-te ou senão levas".
Um abraço
Marcelino
Enviar um comentário