Corta-se horizontalmente o topo e a base de uma melancia, expondo a polpa vermelha. Espeta-se uma faca quatro vezes no centro do topo, fazendo uma quadrícula. Talha-se a melancia sem tocar na área da quadrícula. Comem-se as talhadas reservando o centro, a que se dá o nome de castelo, a parte mais doce da melancia. O castelo reparte-se a final entre os comensais.
A melancia actual, como a maioria da fruta, é um produto modificado pelo homem. Perdeu mesocarpo e ganhou enorme capacidade de retenção de água (creio que superior aos normais 91%), com o que beneficia o agricultor na celeridade e o vendedor no peso, mas prejudica a formação do rendilhado criativo do castelo. A produção carece de enormes quantidades de água, que não abunda onde o sol aperta. A rega é feita, as mais das vezes, com água de má qualidade, proveniente de subaproveitamentos agrícolas, carregando detritos e elevadas concentrações de químicos e metais pesados. Algumas melancias transportam o cheiro da água com que foram criadas. Estes problemas são comuns a todas as culturas de verão e serão mais graves, pelo acréscimo de químicos, na meloa e nalgumas variedades de melão.
A boa melancia, quase um achado, perde pouca água quando aberta, rendilha com facilidade e tem textura firme que dá prazer mastigar. Estas qualidades são hoje absorvidas pela trivialidade: verde por fora, vermelha por dentro, doce e aquosa.
Antigamente fazia-se um “galo” – uma extracção quadrangular na lateral da melancia – para prova da qualidade do fruto. Os vendedores de hoje não aceitam tal sorte. Expõem metades e quartos de melancia sobre as bancas, cobertos de celofane. Deve ter-se cuidado com os sulfitos que alguns podem deitar sobre os frutos abertos para os manterem apetecíveis, mais os sulfitos do próprio celofane, e ainda com eventuais contaminações por bactérias e fungos. O melhor será comprá-las inteiras ou abertas na hora.
Enfim, se a melancia não fizer castelo, não se espante. Qualquer dia nem sequer haverá fruta, apenas produtos naturais ou assim assim.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
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